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Conversa Circular com Mônica GobersteinPublicado em 08/06/2017

Conheça a história da focalizadora Monica Goberstein, que tem levado as Danças Circulares para vários lugares desde 1992. Mas sua história de amor com as danças em roda começa muito antes, desde quando tinha nove anos e dançava com sua comunidade em Israel...



Conversas Circulares é uma nova sessão criada por Deborah Dubner para adentrar no universo dos GUARDIÕES DAS DANÇAS CIRCULARES SAGRADAS no Brasil. Através de entrevistas informais, vamos conhecer histórias que merecem ser lembradas, sonhos e vocações. O convite é honrar os passos, de mãos dadas com cada um destes seres que fazem do grande círculo um bem comum a todo

Quem conhece Mônica Goberstein logo se encanta com seu jeito amoroso, simples e profundo de ser. Vê-se logo que ela é uma pessoa que nasceu com a vocação para servir, compartilhar, e evocar o senso de humanidade por onde passa.  Desde 1992  ela tem levado as Danças Circulares para vários lugares e pessoas. Mas sua história de amor com as danças em roda começa muito antes, desde quando tinha nove anos e dançava com sua comunidade em Israel...

- Conte um pouco sobre a sua entrada no mundo das Danças Circulares. Como aconteceu?

Eu iniciei minha jornada nas Rodas da Dança aos 9 anos, mas sem saber que este nome “Dança Circular” já estava rodando pelo mundo.
Na época eu morava no campo, na Galiléia em Israel, e me recordo que aguardava semanalmente o dia de 4af para ir à cidade vizinha para a aula de Dança Folclórica, alí denominada “Dança dos Povos”. Dancei nas rodas folclóricas durante a infância e juventude. Depois veio uma longa pausa, e houve espaço para outras danças.
Até que em 1991 tive a felicidade de conhecer o então Centro de Vivências Nazaré – atual UNILUZ, em Nazaré Paulista - SP.
Recordo que fui levada à Sala de Estudos, e alí soava uma canção judaica, as pessoas dançavam “Ma Navu”. Me senti paralisada e encantada! Já estava bastante sensibilizada e impactada em conhecer o Centro, mas naquele instante veio toda a alegria da experiência das danças em minha infância sendo resignificada, numa oitava superior.
Alí havia algo novo.
Pronto! Naquele instante eu fui picada pelo bichinho das DC!  
Mais tarde pude chamar a esta nova experiência de “vivência do sagrado” e reconhecer o sentimento de “religare” – sensação de conexão com a fonte da vida.
Após esta visita, segui frequentando o Centro de Vivências, e não tardou para chegar de forma bem natural a decisão de alí residir. Mudei-me pro Centro em fevereiro de 1992, aonde permaneci até março de 1995. Durante este período, em meio à diversas atividades no centro, abracei imediata e totalmente as DC, no que diz respeito à prática, compartilhamento, estudo e transmissão.
Nesse percurso não tenho qualquer lembrança de esforço... Recordo o sentimento de entrega, inteireza, deleite e o desejo natural em avançar, conhecer, vivenciar mais, seguir adiante. Um mergulho sem fim!
* pessoalmente, aprecio mais a expressão “facilitador” do que “focalizador”...
Âncora

- Este ano você está completando 25 anos como focalizadora de Danças Circulares. Uma vida e tanto! O que de mais importante fica pra você como aprendizado?

Sim, 25 anos é quase a metade da minha vida... Um casamento!
Pode parecer demagogia, mas posso dizer que quanto mais aprendo mais percebo o quanto tenho por aprender. O caminho nas DC apenas tem início – é de fato infinito!
Isto vale tanto para a vivência e apreensão das Danças Circulares propriamente (a sabedoria por trás de uma coreografia tradicional ou a magia e intensão intrínsecas a uma coreografia contemporânea) como para a transmissão destas (recursos e didática).
Mas também se aplica para o caminho mais interno em ser facilitador*, que necessariamente passa por de fato ver (leia-se “enxergar”) a si mesmo e ao outro, e estar a serviço.
Sim, como focalizadores estamos a serviço da dança.
E acrescento que estamos a serviço também “além da dança”!
Isso faz toda a diferença.
Aonde e como me coloco na roda, quais são minhas crenças a respeito de mim mesma ao estar nesta função, como vejo os presentes, julgo ou deixo de julgar, e o que transmito ao grupo. Uma responsa!...
Será que deixei de ver alguém/algo durante minha presença e condução?...
Me perguntar diariamente se de fato aplico e vivo os valores veiculados através das DC. É o que os índios norte americanos chamam de “walk your talk”. Caminhar as próprias palavras.

- Quais focalizadores mais influenciaram a sua jornada de 25 anos? Por quê?

Em primeiro lugar não poderia deixar de citar Sabira (Christina Dora Schkolziger). Suíça então residente no Brasil, que por anos trilhou o caminho das Danças Circulares com total devoção e entrega à tarefa que se apresentava. Não me recordo de ter presenciado qualquer sinal de preguiça, cansaço, desânimo, falta de entusiasmo e determinação para qualquer assunto relativo às Danças; fosse para rever uma coreografia, enviar informações a alguém, escrever cartas, produzir e distribuir material, cuidar de seus “filhotes” seguidores do caminho, ou da implantação da Rede Brasileira das Danças Circulares (“Sangha” como foi denominada na época).
A conheci tão logo entrei para residir no Centro de Vivências Nazaré (atual UNILUZ), em 1992. Alí ela ia com regularidade, levar o alimento que contatava diretamente da fonte: danças vivenciadas com Maria Gabrielle Wosien;danças que conheceu em sua vivência direta com Anastasia Geng; aprendizados com Marianne Inselmini ou, mais adiante, sua experiência e envolvimento com as Danças da Paz Universal.
Tudo que recebia ela prontamente levava para compartilhar e espalhar, em nome do bem e em sintonia com a grande causa das DC. Ela de fato acreditava na tarefa.
Sabira foi com quem mais aprendi a estar a serviço, não questionar a tarefa que se apresenta. Apenas fazer. Posso dizer que ela seguia o “Espírito de Guiança”, incondicionalmente.
Através de Sabira pude conhecer Marianne Inselmini, quem ela apresentou ao Brasil. De Marianne guardo a mais pura alegria e inteireza manifesta na dança. Leveza, doçura, presença do Sagrado, a aceitação e inclusão amorosa de cada um na roda.
Adiante chegou Saadi (Neil Dougls Klotz), criador da Rede das Danças da Paz Universal. Um verdadeiro mestre no caminho. Competência e sabedoria, aliadas à simplicidade, exemplo máximo de humildade. Ego nenhum na roda...
Com sua simples presença creio que pude absorver, ainda que indiretamente (“por osmose”...), a sensibilidade mais fina para me ouvir, ouvir a roda, e a necessidade em cada momento na dança, notadamente nas Danças Cantadas. Nestas, aonde não há uma duração nem intensidade pré-estabelecidas para o canto-música, o facilitador deve estar na plena atenção ao que acontece, “conduzir, porém deixando-se ser conduzido...”

- Quais os desafios que você percebe atualmente, para a continuidade das Danças Circulares no Brasil?

As Danças Circulares no Brasil vão continuar se expandindo, quanto a isto não tenho dúvida, é um caminho sem volta.
Tenho comigo alguma preocupação em que o movimento – que é bem diverso e multicolorido – se afaste demais da memória, das raízes do movimento, e fique com as folhas, eventualmente com galhos, mas com raízes muito diluídas e pouco fortes.
Entendo que qualquer ramo das artes, ou do conhecimento humano, precisa cuidar de suas raízes, de sua memória, de sua identidade, da chama original, para a partir dela poder crescer e se expandir com saúde. No caso estamos falando de alguns milhares de anos de dança na história da humanidade.
Muitas e maravilhosas novas coreografias tem surgido diariamente no universo das DC no Brasil. Danças que usam lindas músicas brasileiras, atuais ou antigas, às vezes de época, e encantam pelo rápido acesso do público dançante à mensagem veiculada através da língua portuguesa, muitas vezes carregada de memória afetiva. É um encantamento, posso até arriscar chamar de “recurso emocional”, que traz rápido acesso à mensagem veiculada pela dança como um todo, unindo linguagem verbal, música e passos/movimentos na roda.
Neste sentido, o movimento das DC no Brasil tem criado uma identidade própria, sua liberdade e expansão são únicas no mundo. Creio que isso não ocorre com tamanha profusão em qualquer outro país.
Também criei coreografias próprias para músicas brasileiras, só alegria em compartilhá-las. O mesmo vale para lindas coreografias de muitos colegas. Amo!
Apenas chamo a atenção - enquanto exercício de um olhar crítico para o movimento como um todo - para a necessidade que vejo de caminhar em equilíbrio, aliando o conhecimento da origem e história das DC (no mundo e no Brasil), das raízes do movimento, com o fio da evolução desta corrente, aliada ao novo que chega e seguirá chegando a cada dia – felizmente! Cuidar comequilíbrio da raíz, dos galhos e das folhas, para que a essência não se perca e o movimento siga forte, e com ele prossiga o resgate, a recriação e o cultivo do Sagrado, no seu sentido mais amplo e universal.

- Quais as qualidades que você considera essenciais a um focalizadorde Danças Circulares?

Escuta: ouvir o que o momento presente lhe apresenta, o que a roda lhe apresenta, o que o ambiente/entorno lhe apresenta, o que seu próprio coração sente: cultivar a escuta da própria intuição.

Flexibilidade: jamais entrar na roda com um programa fechado ou rígido. Ainda quando isto se fizer necessário por algum motivo, estar aberto a mudanças, seja na ordem das danças, em sua maneira de conduzir a sessão, ou outra variável.
Ter sempre “cartas na manga”.

Inclusão: partir do pressuposto de que os presentes na roda estão alí para ouvi-lo, para interagir e receber algo. Merecem respeito, cada um, e o focalizador deve dar o melhor de si, à roda e à cada um.

Busca de auto-aperfeiçoamento: certa vez em palestra na faculdade ouvi de um publicitário famoso em que ele contavaque ao terminar uma campanha ou um produto para seu cliente, mesmo achando o resultado excepcional, ele se perguntava o que poderia ser ainda melhor, aonde seria possível aperfeiçoar.
Não estou aqui comparando a dança a um produto de mercado. O que quero salientar com este exemplo é a atitude em resposta a uma situação na vida, aonde  sempre podemos melhorar, nos aperfeiçoar.
Acredito que conduzir as Danças em Roda é um caminho de auto-aperfeiçoamento: aperfeiçoamento da escuta, da sensibilidade, responder ao que se presenta, auxiliar ao outro a ser uma pessoa melhor, porém, acima de tudo, um caminho para sermos nós mesmos pessoas melhores.  
Cada dia.

- Para a continuidade da sua jornada pessoal no mundo das Danças Circulares, poderia compartilhar um sonho?

O sonho que sempre tive desde que conheci as DC, já vem acontecendo...
Mais e mais círculos se formam, mais e mais pessoas dançam em roda, as DC entrando na vida das pessoas em áreas aonde até há pouco não havia acesso.
Na verdade, estamos vivendo um resgate do dançar em comunidade, celebrar a vida, as passagens, momentos significativos sendo compartilhados na roda. Isto sempre aconteceu na história da humanidade, ao redor do Planeta todo, no berço de povos e tradições específicas.
As DC se espalhando nos trazem de volta o sentido do humano, o resgate de valores essenciais do viver em sociedade,o tempo-espaço sagrado, e em comum-unidade. O mais precioso é que agora tudo isso acontece num grande compartilhar, costurando culturas, tradições, costumes de diferentes povos e cada vez mais a consciência e compreensão mais profunda de que “somos todos Um/a”.
Um sonho acontecendo e se expandindo, em ação e em consciência!

- Aproveitando sua experiência, compartilhe um conselho para quem está começando.

Não ter pressa... Namorar muito as DC!
Todos sabemos que hoje o tempo urge, a humanidade está fazendo o seu despertar espiritual, e na evidencia de Luz e Sombras o sentimento de que as DC devem se espalhar, despertar corações rapidamente e em quantidade, temos a sensação de que precisamos agir rápido.
Sim, isto também é verdade. Mas cuidar para não atropelar o próprio caminho...
Há espaço para todos os que quiserem ser focalizadores das DC, no seu tempo.É possível iniciar imediatamente, ou daqui a alguns dias, semanas, ou anos. Cada um deve respeitar o seu tempo.
O encantamento é tal, e a ferramenta tão preciosa aplicável em tantas áreas do conhecimento, que a maioria tem pressa em aprender e logo iniciar a transmissãoe provocar mudanças em seu ambiente. Isso é maravilhoso!!! Mas às vezes pode-se correr o risco de passar por cima de simesmo, e não curtir o tempo de namoro e encantamento com as DC.  Esta etapa é muito especial, e penso que deve ser preservada o mais possível, mesmo no trajeto de quem já focaliza dança há anos.
Nunca perder o seu espaço de simples vivência da dança, e seu encantamento!

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