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Depoimento de uma dançante de primeira viagem.

Neste mês de Outubro em homenagem ao Dia das Crianças dei um ws Acordando a criança interna com as Danças Circulares e recebi este presente.


Publicado em 25/10/2013

Valéria Rosa Pinto da Silva


"Era uma sexta-feira, quando experimentei, agora adulta, dançar em roda. Para quem há muito tempo estava distante do coletivo orgânico, o tema não poderia ser melhor, “despertando a criança interna”. Valéria Rosa, quem nos orientou durante a aula, organizou o centro da roda com brinquedos infantis. Curiosa que sou, investiguei todos, bola de gude, peteca, corda, boneca de pano, entre outros. Será que vamos interagir? Mas quem disse que precisamos tocar, explorar o objeto, para de fato ser afetado? Eles estavam ali, e só de olhar, lembrei da infância. Quando foi a última vez que brinquei de peteca? Penso… do mesmo modo que a criança precisa assumir pequenas responsabilidades, o adulto, para equilibrar a energia, precisa esporadicamente adotar o olhar alegre e sem julgamento da criança. Começamos acordando o corpo. Alongamos. Realizamos movimentos simples com a bacia, pescoço, braço, perna, que na arrogância diária, subestimamos. Descartamos qualquer possibilidade de interrupção de nossa rotina para lubrificar nossas juntas. Mais que despertar o corpo, Valéria nos fez sentir o osso. Incrível pensar o corpo como um conjunto de partes que estão vivas, funcionando em equilíbrio. Consideramos o corpo político, social, subjetivo, máquina, mas só abraçamos a ideia de um organismo vivo, quando uma parte não funciona bem. O osso é vivo. O abdômen tem uma função estrutural. Não é novidade?! Então, como cuidamos dele? Quanto tempo dedicamos para amar nosso corpo? Para vitalizá-lo? Para não julgá-lo, reprimi-lo ou exigir além? Pequenos movimentos lubrificam nossos ossos, músculos, ligações e articulações. Preciso desenvolver uma artrite para o médico me re-lembrar do cuidado com a minha estrutura? Que tal dançar? Após o trabalho de reconhecimento corporal, nos aproximamos do outro corpo. Estamos em roda. Antes de cada música, recebemos a coreografia. Pequenos gestos, sutilezas, alguns movimentos que remetem aos passos do balé, outros menos elaborados. O principal é saber que estamos em harmonia com o próximo. Podemos errar, e neste caso, é uma diversão. Porém, quando o coletivo acerta, é uma sensação de construção, colaboração, concretude e alegria. Dar a mão ao próximo, alguém que você talvez nunca tenha encontrado antes, para um benefício coletivo, sem exigências, apenas a entrega de todas as partes. A criança brinca sem compromisso. Certos rituais requerem concentração e muito compromisso. Na dança circular, tive a sensação de contrabalançar os desejos. Não desafio o outro. Não quero ser melhor que o outro. Não se trata de vaidade ou ego. Essa postura contrapõe o modelo social predominante, pautado nas conquistas individuais, para isso, fazemos provas, estudamos, nos exercitamos, investimos o nosso tempo. O discurso do mérito individual nos impulsiona. Mas esse paradigma não faz sentido na roda. A roda é como uma orquestra, as diferenças se unem prol o comum. Para os que pensam que a Dança Circular se resume à movimentos ingênuos e coreografados, repetindo o modelo das brincadeiras infantis ou de algum tipo de ritual, sugiro experimentar! É exatamente esse sujeito racional, urbano e cartesiano, quem mais sentirá a proposta, rejeitando ou aceitando, mas nunca indiferente. Para finalizar o encontro, Valéria nos trouxe um poema de Maria Alice Estrella: "E ser criança é, também, ser o adulto que nunca esqueceu da criança que foi um dia. Aquele adulto que consegue se reencontrar com a criança que ainda vive no seu íntimo e mais precioso território. Aquele pedaço que justifica todos os percalços e que dignifica todos os tropeços. A ingenuidade restaurada no dia-a-dia e que o transforma em herói, ao reler histórias de sua própria vida, narradas pela criança que o abraça, nas entrelinhas de um tempo que permanece imutável porque sagrado. O tempo do princípio, da origem, da própria essência”. A sala, surpreendentemente, cheirava a lavanda. Fico aguardando as surpresas do próximo encontro!" Paula Kepler


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