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Entrevista com Estela Gomes sobre Danças dos Florais de Bach - por Dorothy PritchardPublicado em 20/04/2019

Como Estela Gomes se interessou pelas Danças dos Florais de Bach? Qual foi o percurso? Que outros convites moram nesta história? Esta curiosidade de Dorothy Pritchard transformou-se em uma bela entrevista, para inspirar dançantes e focalizadores! Deleite-se!



ENTREVISTA COM ESTELA GOMES SOBRE FLORAIS DE BACH

Esta entrevista foi feita por Dorothy Pritchard em março de 2017. Dorothy vive no Rio de Janeiro, dança regularmente e é uma sábia Guardiã das Danças Circulares Sagradas. Quando hospedou Estela Gomes em sua casa, promoveu informalmente uma conversa, conforme conta:

“Interessa-me ver o caminho percorrido por uma pessoa movida por um apelo, um insight, que se desdobra numa rica atividade envolvente, ampliando sua consciência e  potencialidade. É importante para mim conhecer o impulso tornado forte motivação no rumo da vida de alguém. Como resultado, seu entusiasmo cativante naturalmente ecoa e desperta em muitos outros a vontade de compartilhar dessa fecunda experiência. Recebendo Estela Gomes em minha casa, tive a oportunidade de saber como estabeleceu relações tão fortes com as Danças dos Florais de Bach. A conversa informal foi gravada no celular da Ana Maria Marinho e transcrita aqui."

Dorothy - Estela, você poderia nos contar como se interessou pelas Danças de Florais de Bach?

Estela - Sempre me lembro quando dancei a minha primeira dança floral. Eu já conhecia a Dança Circular, dançava com a Renata Ramos semanalmente, já dançava há algum tempo e queria também cantar. Renata disse: “Estela, você tem que dançar com a Mônica Goberstein, ela que canta, eu dou danças cantadas também, mas ela gosta de cantar, procure dançar com ela também”.E fui dançar com a Mônica Goberstein num grupo que ela focalizava na Vila Mariana. Ela focalizou várias danças, King of the Fairies e Enas Mythos do Bernhard Wosien, aquelas danças bem antigas, as primeiras que dançávamos na época das fitas cassetes, e a seguir ela disse que daria uma dança diferente e nós dançamos. Na hora em que eu dancei esta dança, que dizia que existia algo além de nós, que era nossa referência, - o centro – e que o reverenciávamos: nosso próprio centro, e o centro da roda; que podíamos caminhar para esse centro e receber nossa intuição, conectar com nossa intuição e conhecer nossa sabedoria verdadeira que somente nós mesmas tínhamos e por último iríamos espalhar essa sabedoria, essa intuição, para todo mundo desenhando uma pétala de flor, de uma grande flor, cada uma de nós fazendo a sua própria pétala... Lembro da emoção que senti quando dancei – fico toda arrepiada – neste momento percebi que essa dança tinha uma qualidade diferente! Mônica explicou: “essa dança é uma dança de Floral de Bach da alemã Anastasia Geng, que eu aprendi com a Sabira, chamada CERATO”. Eu já conhecia os florais, e daí compreendi que esta dança tinha uma qualidade curadora, tinha uma energia diferente: acessava a sabedoria da nossa alma para que pudéssemos agir a partir desta sabedoria maior, atuando no mundo com maior assertividade a partir da voz do nosso coração.

Dorothy - A partir daí como foi que você se envolveu tão intensamente com as Danças dos Florais de Bach?

Estela - Voltando a dançar com a Renata compartilhei minha vivência e disse que queria dançar mais esses florais, que tinha dançado CERATO, ELM e depois ROCK WATER e que deveria ter as 38 danças! Imaginei que existiriam as 38 danças... Renata, e a própria Mônica, falaram, sim, que elas conheciam algumas, por causa da Sabira e da Joyce que era discípula de Anastasia Geng. A Joyce já tinha vindo ao Brasil, trazendo a primeira sessão dos florais e de danças curativas de plantas e árvores. Só que Renata e Mônica não tinham todas as 38 danças ainda. Mas, me disseram que aos pouquinhos essas danças iriam chegar. Comecei a dançar essas flores, as que elas tinham. Fui dançando os florais junto com as outras danças sagradas, o repertório era bem variado, não dançávamos só uma sessão de florais naquela época. Aos poucos as danças foram chegando e Renata montou módulos e deu os 38 florais, pois tinha encontrado com Martine de Winnington em Findhorn. Martine, também discípula de Anastasia, compartilhou todo o material dela e dançou algumas danças que a Renata não conhecia ainda. A Rê trouxe esse material e foi dançando conosco. As danças me encantavam, a cada dança uma qualidade, uma forma diferente de tomar os florais, dançando...

Dorothy - O que lhe tocou mais, ou o que lhe impressionou de forma especial dançando os florais?

Estela - A cada vez que dançava esses florais eu percebia a qualidade harmoniosa das flores, como a natureza podia nos ensinar com sua simplicidade. Com passos simples e movimentos simbólicos que tinham um sentido e significado profundos tocando a nossa emoção e nosso pensamento, eu sentia e mergulhava na vivência e na delicadeza deste sistema de cura. Os movimentos que Anastasia propunha nas danças através dos portais, formando estrelas, nos elevando ao alto e trazendo novas perspectivas e olhares me encantavam. No começo eu dancei nesse sentido, sentindo uma diferença, mas não sabendo muito bem qual era a diferença entre tomar o floral e dançar o floral. Somente sentindo, dançando, percebendo a cada dança como elas me tocavam e tocavam os grupos. 

Dorothy - Como é que você relaciona as flores na Natureza e as flores na dança. Como é isso para você?

Estela - Eu percebo assim: O Dr. Bach se inspirou em como e onde essas plantas nascem, como elas crescem, em que época florescem, o que ele sentia em contato com elas para descobrir qual sua qualidade ou vocação. Por exemplo, o floral ASPEN vem de uma árvore que é muito bonita, tem as flores como catkins pendulares, que caem. A árvore forma aqueles cachos caídos e quando você quer fotografar essa árvore e suas flores, se fotografar de muito perto, não fica nítido. Parece que a árvore treme, não conseguimos tirar uma foto quando estamos próximos. Temos que nos afastar para conseguir enxergar exatamente como é essa planta. E Dr. Bach se inspirou nisso porque é comum as pessoas de ASPEN terem medo, um pressentimento como se algo ruim fosse acontecer e elas tremem às vezes por dentro. Então essa inspiração dele, ao ver como essa planta se revela na natureza, como ela se expressa, trouxe para ele que qualidade poderíamos acessar se a gente tomasse o ASPEN. Este floral seria para as pessoas que tivessem algum pressentimento ruim, quando sentissem medo de algo desconhecido, medo de ficar à noite sozinho, ou um medo que nem consegue explicar... Então ele encontrou como se fosse a benção, a qualidade para aliviar este sofrimento e restabelecer a confiança de que está tudo bem. Tomando o floral ASPEN você vai adquirindo essa coragem e vai revelando que esse medo às vezes é infundado ou não serve para a gente muitas vezes, porque não está claro. À medida que você toma o floral esse medo vai dissolvendo, vai desaparecendo esse tremor interno.

Dorothy - E nas danças dos florais?

Estela - Quando Anastasia conheceu o trabalho do Dr Edward Bach também imaginou que haveria uma dança para cada um dos florais. Ela já tinha profunda conexão com a natureza, já havia coreografado outras danças para árvores e flores. Foi criando as coreografias inspirada em sua relação com as danças dos povos. Ela assistia uma dança folclórica na Letônia e de repente acontecia algo interessante na vida dela. Como exemplo, ela ganhava de presente de uma amiga um ramo de alguma flor, ou no caminho para outra cidade onde daria um curso de danças seu olhar se deparava com alguma árvore em especial. Naturalmente, no momento em que acontecia aquele insight, ela unia uma imagem de uma dança com a flor que ela estava encontrando, que naquele momento chamava sua atenção.  O trabalho dela foi muito intuitivo, a partir das conexões que iam acontecendo em sua vida, sonhos, presentes, fala de amigos que dançavam com ela. Depois compartilhava seus insights com os grupos que focalizava. Parece que estou escutando ela dizer ao grupo: “gente, vamos dançar isso aqui! Vamos ver se vocês sentem também o que eu senti”. Compartilhando ela falava: “olha, vai ter esse movimento do braço, que faz assim em ASPEN, e depois nós vamos trazer as mãos à nossa frente, olhando para elas, vamos girar e você vai se olhar como na imagem de um espelho, você pode sentir medo, mas encontrando sua própria imagem no espelho, sua mente clareia. Com este gesto você também esta protegido de tudo que possa acontecer. Você consegue adquirir coragem, isso vai se abrindo, vai se revelando: sua mente, seu coração vão se revelando”.  Então ela ia fazendo essas conexões dos passos com os símbolos, com a qualidade da flor. Eu sinto isso: que o trabalho desses dois mestres, Bach, com esse exemplo da natureza, o que ele percebia e sentia nessa conexão e Anastasia, com a relação dos passos, gestos e movimentos com os símbolos, conseguiram casar suas criações – esse casamento de masculino e feminino – casaram no poder dessas danças. E essas danças, então, que revelam a natureza que está fora, (como a planta cresce, onde ela se encontra), junto com a nossa própria natureza interna – que nós temos isso dentro da gente – fazem o poder desse floral e dessa dança funcionar na gente. Observo que essa natureza de fora é a mesma natureza de dentro. Só que a gente precisa ir desvendando esses véus, precisamos ter olhos de enxergar...

Dorothy - Você disse que não conhecia o material para estudar as danças dos florais naquela época. Como você fazia para aprender e estudar as danças sem material?

Estela - Porque a gente não tinha esse acesso e nem sabia que tinha um livro em Alemão escrito pela própria Anastasia! Era a época da fita cassete. Não existia nem vídeo cassete. Não tinha essa amplitude da tecnologia que temos hoje. As músicas iam chegando bem devagar, em fita cassete, as escritas da dança não vinham com anotações ou com explicações dos passos ou o que eles queriam dizer. Então foi bem lento esse trabalho de acessar essas qualidades, de conhecer aos poucos as danças e estudá-las.Tanto eu, quanto minha mãe, a gente já tinha estudado os florais, porque eu vim da área da saúde e minha mãe pelo interesse pessoal dela; eu já tomava os florais de Bach há muito tempo. Tenho um médico homeopata e floralista que me acompanha e toda a minha família, e que já nos acompanhava com os florais. Então eu já tinha uma sensibilidade, por tomar o floral e sentir esses benefícios, essa harmonização. Eu lembro sempre desta frase do Bach, “quando você toma um floral, seus defeitos, suas imperfeições, derretem como neve ao sol”. Então eu já sentia isso.

Dorothy - O que você sentia?

Estela - Quando eu comecei a dançar, eu falei: Nossa o efeito é muito mais rápido! E às vezes a dança acessava coisas que eu não percebia tomando o floral! Porque tomando, eu estava trabalhando num campo energético pessoal, mas a dança trabalha um campo energético de grupo, de comunidade. Então às vezes, uma pessoa que traz uma vivência muito importante, com aquela emoção, aquele sentimento, e compartilha, e está na roda dançando, ela passa, através da energia sutil, toda aquela experiência para o grupo. Isso me tocou muito, foi me tocando mesmo como as gotas de florais, à medida que fui dançando elas foram chegando para mim.

Dorothy - Quando você teve vontade de começar a focalizar os Florais?

Estela - Renata percebeu que eu tinha um carinho especial por essas danças, e no primeiro Encontro Brasileiro de Danças Circulares Sagradas de 2001 – que foi em Itapecerica da Serra – ela me convidou para dar uma primeira oficina de florais. Eu tinha poucas danças de florais ainda. Eu escolhi CERATO, CHESTNUT BUD, que tinha dançado lá em Findhorn, em 1996, sem saber ainda que era uma dança floral, MIMULUS, GORSE e BEECH. Acho que foram esses cinco que escolhi para focalizar no Encontro Brasileiro. Foi a primeira vez que eu focalizei uma oficina somente de florais, uma hora e meia ou duas horas dançando aquelas energias. Muitas pessoas se lembram até hoje desta vivência: “Estela, eu dancei os florais com você no primeiro Encontro”. Amigos queridos, pessoas que estão há bastante tempo no movimento se lembram até hoje, porque eu acho que eu tinha uma paixão, um amor, aquilo fazia muito sentido para mim, como faz até hoje. Então foi assim que eu comecei a me encantar por esse trabalho. Para mim é uma grande alegria compartilhar as Danças dos Florais de Anastasia, pois o poder destas danças está na energia de grupo que é criada e recriada à medida que dançamos estas danças, a partir dos movimentos simples carregados de símbolos inspirados nas tradições dos povos da Letônia, Lituânia, Estônia. A energia de cura é criada no círculo da nossa dança e pode ser sentida, experimentada, vivenciada e circulada de mão em mão por quem entrar no círculo. Dançar os florais é um presente!

Dorothy - Agora eu queria saber de você: Porque com esta identificação tão grande com os florais, você entendendo, percebendo isso – não uma coisa assim que você estaria copiando a idéia, ou porque aquilo é bonito – mas porque você sente! Porque você não se inspira nas plantas do Brasil? Para você também, provavelmente virá naturalmente a inspiração. Você pode intuir e fazer no Brasil, com as plantas brasileiras, com as coisas daqui, esse tipo de trabalho de danças de florais.

Estela - Ai, nossa! Eu sinto um chamado assim na sua fala...

Dorothy - Eu acho que o Brasil tem outro tipo de natureza.

Estela - De natureza, de energia, de tudo... Eu nunca parei para pensar nisso. Porque acho que nunca tive tempo, por causa do meu trabalho. Eu tenho um trabalho grande, que me exige muito em termos de horas e de dedicação, que é meu trabalho na prefeitura; sinto que é tempo de me dedicar a ele. Para mim os florais são um aprendizado profundo e complexo, a cada momento mergulho e aprendo um pouco mais. Cada vez que ofereço um novo curso acontece um novo aprendizado, sempre diferente, como a cada momento as pessoas se conectam com as danças de modo diverso. Então eu sinto isso, por enquanto... Você é a primeira que diz: “Nossa Estela, com isso que você sente será que não vai vir?” Eu não estou fechada para isso, mas não sinto que é agora. Sei também que tem algumas coisas que estou colocando para depois, quando eu tiver um tempo mais livre. Percebo que preciso de um tempo mais livre para criar, para recriar, tanto que às vezes no parque – eu trabalho no Parque Ibirapuera – se me sinto cansada ou estressada, nem que seja por 15 minutos, eu saio e vou dar uma volta pelo parque. Saio do prédio em que trabalho e vou para dentro do parque, é impressionante sentir a energia que o parque tem. E olha que é um parque urbano, mas ele traz uma energia, é isso que revigora. Você está pertinho das plantas, das árvores... Eu conheço pouco de planta, de árvore, conheço muito pouco. Na minha infância eu viajava para um sítio em Mairiporã, que eu ia só aos finais de semana, mas depois me afastei, fiquei só na cidade que faz a gente ficar na caixa: de uma caixa para outra caixa, da caixa apartamento para a caixa carro, da caixa carro para a caixa trabalho. A proximidade com a natureza sempre foi algo que alimentou minha alma, eu me sinto muito bem, me sinto revigorada.

Dorothy - Quando a gente entra numa floresta, é outro clima, é outra energia! As árvores parecem que estão abençoando a gente! Agora, eu acho que você diz: “Deixa para depois”. É uma palavra que todo mundo está dizendo para mim: ”Dorothy, aprendi com você: não existe o depois”. O depois é uma coisa que não existe! O depois está cheinho! ‘ Depois’ está cheio de coisas já! Então acha uma brecha! Faz um passeio – para mim é numa floresta – porque eu gosto de mato!  Faz um passeio por lá, para sentir aquela outra vibração com as plantas... Vai vir naturalmente, não força nada, que aquilo tem que vir normal como você mesmo estava falando há pouco. Como chegou para você normal – o CERATO, né? Vai chegar também lá no mato.

Estela -  ( risadas... ) e eu acho assim também, o impulso de criar, de criar alguma dança, sempre veio a partir de um sentimento, de um pensamento, de uma reflexão, percepção, necessidade... e de um sentir mesmo. Então eu tenho algumas coreografias – poucas nesses anos todos – fruto de uma história, de uma história com muito significado! Acho que você tem razão.

Dorothy - Porque a criação não vem de repente, não é mesmo? Eu tenho um livro sobre entrevistas com pessoas que são criativas. Por exemplo, com matemáticos, com músicos... e neste livro eles ficam repetindo: “é muito trabalho, é muito trabalho, você vai alcançar!”. E eles, dizem que de repente vem! Porque elabora aquilo que está dentro de você. É igual quando uma planta cresce. De repente brotou uma coisa...

Estela - Uma semente brota, não é? Muitas vezes fica lá dentro da terra um tempão...

Dorothy - Eu acho muito importante, porque eu sinto no que você fala, eu sinto aquela verdade, a sua verdade. Cada um tem sua verdade, se você ficar na sua verdade, você atinge as pessoas. Enquanto a gente fica com medo – (eu sou uma, não é? a autoestima está faltando...), nada acontece, mas, quando você é você, aquilo atinge as pessoas.

Estela-  Eta conversa boa!

Dorothy - Acho muito importante o que você falou, É porque no que você diz... a gente entende outras coisas. Quando você fala que na dança você percebe mais por causa da energia do outro, por causa do outro reagir, então aquilo é que amadurece na gente.  Às vezes é uma coisa que a gente não sabia, aquela pessoa falou uma coisa e a gente diz: “Ah é!” Aquilo amadurece na gente. Achei isso muito importante...

Estela - Gratidão Dorothy!  Meu meio do céu no mapa astrológico é aquário e eu tenho certeza que meu forte sempre foi o trabalho em grupo, a construção de comunidades, um mais um é sempre maior que dois, não é mesmo? Também acredito na força das relações humanas que se criam e se transformam no espaço circular...