"Essa ciranda não é minha só, ela é de todos nós”.
Fui por curiosidade e fiquei estupefata com o que vi.
Músicas, pessoas, culturas de povos do mundo inteiro, espiritualidade desassociada a representações religiosas e diversidade. Tudo o que eu sonhava ali diante dos meus olhos.
Os encontros aconteciam em uma pracinha onde se dançava debaixo da copa das árvores. Sentei-me em um banco para observar a roda, era tão espirituosa que não ousei entrar. Por um longo tempo acreditei que a visão de fora era mais bonita do que a de dentro. Não foi por falta de convite, nem de vontade. Desatinei a pensar que jamais acertaria os passos.
Foi então que um dia alguém estendeu a mão para que eu tocasse, a focalizadora me puxou. Quando dei-me conta estava dançando. Como pude perder tanto tempo?
Entendi que observar, embora lindo, é limitador. É como ver a casca sem saborear da polpa. É como julgar um livro pela capa. É de fato, como olhar a roda e não dançar.
Porém, entrar e dar as mãos, olhar nos olhos, trocar sorrisos e centrar-se nos passos e no tempo da música revela muito sobre nós mesmos. No primeiro contato com a dança circular, embora imatura e de maneira inconsciente, experimentei estar comigo, em mim, para mim e não para os outros. Assumi a responsabilidade em contribuir para o fluxo da dança como as formigas fazem nos formigueiros e as abelhas nas colmeias.
O que achei lindo de cara foi o fato de que cada um e cada uma faz a sua parte, cuida do seu caminhar, não há críticas sobre os passos que vez em quando se da errado, pelo contrário, se ajuda a dançar sem apontar nomes ou dedos. Esse cuidado amoroso é característico das DC.
Dançando consegui me abrir para o que está além de mim e com atenção experimento o prazer de ser mais calma, mais acolhedora, aberta e generosa. Acredito enfim que se aplicarmos na vida o que praticamos nas danças circulares teremos um mundo harmonioso no qual a soma das diferenças resulta num todo semelhante.
Hoje não há lugar onde eu me sinta melhor.