5# A ARTE DA ESCUTA DOS GRUPOS
Começo com uma partilha pessoal para contar como ao longo dos anos fui desenvolvendo e aprendendo esta arte...mas ainda tenho muito a aprender...
No meu mapa natal tenho aquário no meio do meu céu, nasci para trabalhar em grupos, cooperar no coletivo, aprender com liberdade. E cada vez que penso nisso fica ainda mais claro na minha vida...
Revendo minha história profissional, como fonoaudióloga e depois focalizadora de DCS, em todos os locais em que atuei trabalhei em grupos e/ou criei condições para que outras pessoas também trabalhassem e cooperassem para construir projetos e ações comuns. Desde o consultório particular onde criei grupos de estudos, palestras e atividades em co-terapia; Central de Telemarketing onde os trabalhos de aquecimento vocal e desenvolvimento da comunicação funcionavam em pequenos grupos; Unidade Básica de Saúde onde atendia pequenos grupos, Centro de Convivência e Cooperativa onde tudo funcionava em grupos, Hospital Público onde trabalhei com grupos de terapia de voz; centro de saúde do trabalhador onde motivei todos os profissionais para o atendimento grupal, nas Práticas Integrativas em Saúde - tudo em grupo e finalmente na UMAPAZ onde atuo como docente nas danças circulares como Metodologia Integrativa em grupos. 32 anos de muito trabalho.
Ou seja, desde muito cedo sempre soube desta minha missão e aos poucos fui desenvolvendo habilidades para esta ação. E todos os dias aprendo algo novo...não acaba nunca né?
Uma das habilidades que busco aprimorar é a ESCUTA.
Ler e estudar as técnicas de trabalho grupal como as da psicologia e da fonoterapia, vivenciar muitos cursos, atendimentos em grupo tanto na área de saúde quanto de educação (educação pública, antropologia da saúde, educação gaia...), fazer terapia em vários momentos da minha vida e todo o caminhar nas danças circulares auxiliaram muito o desenvolvimento da arte da escuta dos grupos. Eu agradeço e honro esta jornada e todos os mestres que tive ao longo do caminho.
Ser filha de professores também ajuda...tudo que aprendi com meu pai e depois com minha mãe sobre ser educador, construir aulas, planejar, avaliar, sobre as metodologias e exemplos desta prática abriram minha escuta para a riqueza das possibilidades.
Mas nada disso foi tão potente quanto ser terapeuta atuando na área da voz e seus distúrbios, escutar tantas vozes perdidas e silenciadas que me tocaram profundamente e a busca dos caminhos para que as pessoas reencontrassem/recuperassem sua potência vocal. Isto que me fez querer escutar as vozes no círculo das danças circulares. Eu amo escutar as vozes e aprender com elas. Amo escutar partilhas de histórias e principalmente as vindas do fundo do coração. Me emociono, me animo, me inspiro com essas vozes que escuto. Mas principalmente aprendo. Mesmo com as vozes silenciosas na palavra, mas expressas no olhar, no sorriso, na lágrima ou no gesto.
Rubem Alves diz ‘parafraseando Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma”. Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer…’
Observo que o círculo nos coloca num outro espaço-tempo sagrado e pode permitir essa abertura do silêncio para a escuta.
E nosso círculo, que contém e expressa a totalidade, se manifesta e se desenvolve junto a partir desta construção conjunta. Que é feita dos elementos que Nanni Kloke bem definiu e sistematizou: a forma da DC, os conteúdos que podem emergir e a vivência da dança como meditação em movimento, ou seja, o fluir da DC. A forma que alimenta o corpo, o conteúdo que alimenta a mente e a meditação que alimenta a alma.
A arte da escuta também é feita de limites. Afinal nossos ouvidos só escutam uma certa gama de sons né? Dar espaço para outras vozes surgirem, fazer perguntas, propor reflexões, abrir espaço para algumas vozes. Silenciar juntos...E dançar muito...afinal viemos para dançar...tenho amigas que me perguntam baixinho: como silencio agora o grupo?
É...eu sei silenciar...é com amor e exemplo.
Penso que a partir desta escuta podemos não só construir coisas incríveis juntos, mas também nos conectarmos mais com as pessoas criando laços que podem seguir além dos círculos das DC. Amizades, convivência, família, comunidade.
Convido você, focalizador ou dançante a abrir seus ouvidos, olhos, coração e alma para a escuta do que ocorre no círculo. Tenho certeza que poderá aprender muito com o que vai escutar.
E tenho duas dicas: para quem ainda não leu o texto do Rubem Alves chamado Escutatória, não perca. É de ler e reler muitas vezes. E quem ainda não conhece o Diálogo na perspectiva de David Bohm pode fazer uma oficina com a Márcia Moura na UMAPAZ ou com o Arnaldo na Escola do Diálogo. São cursos incríveis e oportunidades para desenvolvermos esta escuta.