Outro dia em uma aula de Danças Circulares com crianças do sexto ano em um colégio particular, apareceu o tema: “Dança Circular tem ou não a ver com comunicação?” Foi interessante ouvir o que os jovens trouxeram de percepções, dúvidas e principalmente questionamentos.
Fiquei refletindo sobre isso, e percebi que o tema é tão importante que vale um artigo. Quem focaliza sabe o quanto a Dança Circular pode agregar na educação. Mas nós, focalizadores, ainda enfrentamos muitas barreiras para mostrar isso dentro das instituições de ensino. Os motivos são muitos: não acreditam, olham como “apenas uma dancinha”; não conhecem e não têm tempo para conhecer; até acreditam, mas não dá pra encaixar na “grade curricular”, pois há muito conteúdo para ser dado aos alunos. Esta é uma realidade que muitos focalizadores enfrentam. As escolas tem que dar conta de tudo, e principalmente dos pais, que na maioria estão preocupados com o vestibular de seus filhos.
Então, tendo como pano de fundo este cenário, paro para escrever e compartilhar o tanto que acredito nas Danças Circulares como instrumento pedagógico para o desenvolvimento integral do ser, e para preparar os alunos para se posicionarem no século 21 com atitudes extremamente fundamentais: respeito, ética, cuidado, amorosidade, confiança, coragem, atitude e outros tantos atributos que farão dos jovens de hoje serem líderes ou seguidores amanhã.
A Comunicação está presente desde o momento que acordamos até a hora de dormir. Como damos bom dia para nossa família? Meus cachorros fazem a maior festa logo cedo. Recebo deles, incondicionalmente e todos os dias, alegria, disposição e atenção. Como é o nosso despertar?
Como está nossa expressão diária? Sorrimos? Reclamamos? Franzimos a sombrancelha? Nos encolhemos? Nos escondemos? Apontamos o dedo no nariz dos outros? Gritamos? Abraçamos?
Como está a nossa escuta diária? Fazemos de conta que estamos ouvindo? Temos uma escuta genuína e generosa para as pessoas que amamos ou não temos tempo ou paciência de realmente ouvir o que está falando nosso filho ou aluno?
Como está o nosso olhar diário? Entramos no elevador e cumprimentamos as pessoas ou fazemos de conta que estamos sozinhos? Olhamos nossos filhos, funcionários, alunos, pais, com a dignidade que merecem? Ou já nem olhamos mais porque achamos que já conhecemos? E será que somos olhados e percebidos em nossa dignidade?
Como estão os nossos passos diários? Pisamos pesado ou leve? Como lidamos com as pedras de nossa estrada? Aceitamos o desafio de andar por novos caminhos ou ficamos em nossa zona de conforto fazendo sempre a mesma coisa por medo de dar errado? Aprendemos novos jeitos de caminhar na vida ou repetimos as mesmas atitudes, que geram sempre os mesmos resultados?
Como está o nosso ritmo diário? Percebemos a terra que nos acolhe ou corremos numa tal velocidade que nem temos tempo de pensar nisso? Sentimos o pulsar do nosso coração que nos mantém vivos 24 horas do nosso dia? Temos tempo para cuidar da nossa saúde e para apreciar a vida das pessoas que amamos?
Como está a nossa nutrição? Como estamos nutrindo nossos relacionamentos, nossos pensamentos, nosso corpo e nossas emoções? Podemos considerar que nossa nutrição é saudável?
Como estão nossos relacionamentos? Cuidamos e apoiamos? Somos cuidados e apoiados? Acolhemos os erros? O que colocamos na frente de nossas relações: a crítica ou o amor?
Como está o nosso centramento? Ao deitar de noite, temos a sensação de que o dia valeu a pena, de que nossa vida faz diferença para nós mesmos e para as nossas relações? Vimos o dia passar ou fomos guiados pelo relógio, pelo urgente e pelas obrigações sem sentido?
Como está o nosso equilíbrio? Conseguimos ou não ter uma vida que mistura com sabedoria o lazer e o trabalho, a alegria e o compromisso, a teoria e a atitude, a liberdade e a responsabilidade?
Afinal, como está nossa vida? Fazemos o nosso melhor? Recebemos o melhor dos outros? Focamos o que somos ou o que não somos? Pedimos ou agradecemos? Seguimos na direção de nossos sonhos ou esquecemos deles? Aprendemos e ensinamos a simplesmente obedecer?
Estamos falando de Comunicação. Para viver no século 21 é necessário ter este preparo. Este pode não ter sido o mundo que nós, pais e professores vivemos até hoje. Mas certamente será o mundo de nossos filhos, netos e alunos. Será que nós, adultos, estamos impelindo ou impedindo esses jovens de se preparar para este novo mundo?
E o que a Dança Circular tem a ver com tudo isso? Tenho certeza que não preciso responder para meus queridos amigos focalizadores, porque todos eles sabem muito bem a resposta. No entanto, tenho a esperança de que este texto seja lido por educadores, pais e professores. Então, compartilho:
Nos passos da dança, eu exercito o meu caminhar na vida. O ritmo não pára e eu tenho que aprender a lidar com todos eles, sem estagnar, porque a vida demanda esta flexibilidade. Ao darmos as mãos, exercitamos o dom de apoiar e ser apoiado. Exercitamos a confiança, tão necessária nos tempos atuais. Quando a música pausa, entramos em contato com o nosso silêncio, aquele lugar dentro de nós que raramente visitamos no tumulto de nossos pensamentos. Quando pisamos, vamos aprendendo sobre nossos passos, largos ou encolhidos, duros ou suaves, ritmados ou perdidos, barulhentos ou silenciosos. Reaprendemos a caminhar. Exercitamos também o olhar, o sorriso, a possibilidade de honrar a existência do outro e assim também ser grato pela nossa existência. Namastê! Visitamos todas as culturas e gestualidades. Ao dançar a diversidade, abre-se dentro de nós um espaço novo para acolher e gostar daquilo que é diferente. Deixamos de ser indiferentes. As coisas passam a ter mais sentido. Nossa vida ganha um novo significado. A partir dessas experiências no círculo, aparentemente simples e singelas, somos ludicamente chamados a profundas transformações. Do medo de errar passamos para um novo estagio que é traduzido pelo gosto de aprender. Ao revisitar essa alegria de criança, nos sentimos mais soltos, menos engessados e mais confiantes para enfrentar os desafios. Afinal, aprendemos com o nosso corpo, em nossas células, com nossa emoção e pensamento que conseguimos dar conta, que podemos confiar, que somos capazes. Nossa autoconfiança melhora como num passe de mágica. Nós aprendemos a ter mais paciência, porque exercitamos nosso ritmo individual na dança do coletivo. Nossa comunicação muda. Levantamos os olhos, diminuímos a vergonha, abraçamos, temos mais sorrisos para oferecer e – curiosamente - começamos a agradecer.
Já dizia o velho ditado: “Quem não se comunica se estrumbica”. Eu diria que no século 21, a comunicação será cada vez mais um dos principais requisitos para que uma pessoa tenha sucesso na vida (entendendo que sucesso vai muito além do status ou do dinheiro). A experiência em uma roda de Dança Circular efetivamente ensina!
Já visitei muitos lugares dentro e fora de mim. Não há lugar onde eu me sinta mais em casa do que em uma roda de Dança Circular Sagrada. Mas confesso: é uma casa muito engraçada! Não tem teto, nem portas e janelas. Está em constante movimento e sem a segurança das paredes... No entanto, há algo neste lar que é delicadamente especial: a confiança das mãos, o pulsar do coração, o poder da união, a alegria da celebração. Quer experimentar?