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Dança Circular nos Parques: exercício de Cidadania

Reflexões sobre as Danças Circulares Sagradas nos Parques públicos do Brasil, como exercício fundamental de construção de cidadania.


Publicado em 30/03/2016

Deborah Dubner


Quem já passou pela experiência de focalizar e dançar as Danças Circulares em espaços abertos, sob árvores, flores e frutos, certamente não esquece jamais. Nasce um suspiro de frescor que invade o cinza e brilha as cores opacas em nós. O ar entra mais puro e sacode nossos porões esfumaçados. A pele respira diferente, no compasso das folhas esverdeadas que balançam ao vento.

Eu tenho a sorte de focalizar semanalmente, desde 2012, em um bosque que mais se assemelha a um templo a céu aberto. A copa das árvores sombreia o círculo da dança e vez ou outra os raios de sol brilham entre as folhas. Às vezes, quando levanto meus braços em direção ao céu, vejo uma flor que se destaca pela luz do sol. Outras vezes, as folhas de outono caem como chuva florida durante a dança. Pássaros e borboletas voam entre nós, unindo céu e terra. A música das cigarras se mistura às canções de todos os povos. Dançamos e conectamos a natureza dentro e fora como algo absolutamente indivisível e concreto. Somos natureza! Todas as formas de vida pulsam em um só coração. Os seres visíveis e invisíveis, grandes e pequenos, alados e terrestres, dos reinos vegetal, animal e mineral se integram ao círculo. A vida é uma só. Como diz a letra da canção trazida às rodas pelos amigos Guataçara e João Paulo: "Gaia, tudo está vivo, tudo respira, eu e você”.

Tive também o privilégio de já ter focalizado em vários parques de São Paulo, em eventos pela paz: Parque Ibirapuera, Parque da Luz, Parque da Água Branca e Parque Trianon. Em cada espaço, um silêncio diferente. Em cada território, a história urbana dos moradores daquele bairro, reescrita no pedaço de chão ladeado de árvores, para além dos prédios.

Os parques e as Danças Circulares pulsam a vida nas cidades. São redutos de silêncio, que abraçam a urgência e a transformam em serenidade. Nas rodas ao ar livre o passante é chamado, seja pela musica que toca, seja pelo círculo que convida, ou pelo bucólico cenário das mãos dadas sob os tons azuis e verdes. Cores de um Brasil que sabe dar exemplo de união e diversidade. Assim são nossas florestas. Assim é a Dança Circular em nosso país, espalhada em parques, girando e contagiando cada vez mais passantes que se tornam dançantes. E como dançantes, descobrem outro jeito de serem cidadãos. Como assim? Sim!

Nas rodas de Dança Circular - especialmente as dos parques - vivenciamos a total diversidade: todas as raças, religiões, idades, classes sociais e experiências se dão as mãos e experimentam o ritmo coletivo. Não há separação ou hierarquias. Por algumas horas, temos a chance de ser e acolher o outro, seja quem for. Exercício de respeito, tolerância, abertura. Cidadania.

Aprendemos também a cuidar: do outro, de nós, do ambiente que nos cerca. Entendemos que o nosso lar vai além. Lar é corpo e casa, rua, bairro, cidade, país, planeta. Cidadania.

Aprendemos a silenciar para escutar os sons do parque. Crianças, buzinas, cachorros, gatos, grilos, vento... Música da coexistência. Cidadania.

Conectamos com o que há de mais verdadeiro e simples dentro de nós: emoção, respiração, olhar e presença. Acordamos para o belo que a natureza convida. Amaciamos nossa dureza, derretemos nossa frieza, abrimos os poros e o coração para receber e doar o melhor de nós. Troca valiosa. Cidadania.

Dançar e focalizar nos parques é convite para a vida toda. Neste cenário, a maior escola para exercitar flexibilidade, acolhimento, abertura, foco, visão e expansão. Convite para conectar o belo que nasce da diversidade e a força que brota da adversidade. Exercício de cidadania.

Vamos?


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