Quando nascemos, é comum os familiares derramarem bênçãos, carinhos, sonhos e alegrias pelo simples fato de termos chegado ao mundo. Não lembramos dessa ocasião, mas de alguma forma ela fica tatuada em nossas células. O bom e o ruim.
À medida que vamos crescendo, misteriosamente nos distanciamos da magia que é nascer e existir. As expectativas não correspondidas, os conflitos inerentes ao choque de gerações, os sonhos não compartilhados, a vaidade desocupada, a liberdade abafada, tudo isso vai minando a mais bela e simples constatação do viver: nascer é pura manifestação divina. Não há nada mais incrível do que isso. Porque esquecemos?
Mas há momentos... pequenas gotas de sutileza no infindável oceano de incertezas, no qual nos lembramos do quão milagroso é estarmos vivos. Por instantes somos banhados por uma luz líquida, escorrendo por nossa pele até entrar no mais fundo lar do coração, iluminando por dentro nossos caminhos escuros. Nestes raros instantes de beleza, não temos a menor dúvida sobre o quanto nossa vida é digna e como somos especiais, pelo simples fato de termos nascido com uma história e uma realização tão única quanto o nosso rosto.
Nesses instantes, é como se religasse o fio de vida que nos une entre céu e terra na linha do tempo presente, entre passado e futuro. Tudo faz sentido! Somos o eixo, o ponto central da cruz que dá sentido e unidade ao nosso percurso. Enxergamos nitidamente que cada passo não foi em vão, que cada desafio nos fortaleceu e que nossa existência é plena de significado.
Sublimes momentos! Chega a ser possível ver e sentir um vapor de luz nos envolvendo. O que vem junto é pura gratidão, pelo que foi ou será, mas principalmente pelo que está sendo. Lembramos ao que viemos. Conectamos com nossa mais pura beleza sonhada.
A Dança do nascimento rodopia de braços abertos dentro de nós cada vez que nossa existência é honrada. Quando o olhar do outro brilha para o nosso ser, não pelo que fazemos, mas pelo que somos. Quando temos a plena certeza de que deixaremos um legado sincero, memórias saborosas, o quentinho do aconchego. A vida nos abraça.
Não precisamos ser criança para receber amor. E nada de ter que ser perfeito ou fingir o que não somos! Ao vestirmos nossa roupa adulta, é bom lembrarmos de abrir a porta que recebe em abundância. Mas não é tão fácil, porque esta chuva de luz amorosa é tão forte que pode ofuscar. Ver a sombra é difícil, mas viver a luz também é. Chego a pensar que nossa vida inteira serve apenas para aprender isso: ser a luz que somos, mas não brilhamos.
Se eu pudesse traduzir o que senti no dia do meu aniversário de 50 anos, estas palavras talvez chegariam perto. Na roda, entre pessoas amadas, ganhei palavras, afeto, verdades, gestos e uma dança da minha amiga querida, que batizei de “Dança do Nascimento”.
A Dança do Nascimento conecta, expande, renasce. É puro amor e por isso cura, na suavidade do encanto. Ela nos relembra que estar vivo é dádiva, não fardo. Honra nossos passos, emoções e pensamentos, iluminando com estrelinhas brilhantes o nosso caminho. Amplia nossas asas, convidando a acolher o céu dentro de nós.
Dançar o nascimento é um convite para encarar a nossa luz de frente e manifestar o nosso sonho na terra. O meu desejo é que todos possam viver isso um dia.